A última parte do trabalho “Notes from Mount Analogue”, 2022, de Richard Wentworth chegou na galeria minutos antes da abertura. Por e-mail. A imagem, parte de uma serie de 12 fotografias que compõem a peça, mostra uma caixa de um quebra-cabeça com a reprodução da obra “A noite estrelada”, 1889, de Van Gogh. Muito simbólico um quebra- cabeça ser o último elemento de uma exposição que sempre teve a vocação de ser de certa forma um quebra-cabeça. “SOL” é uma exposição imersiva sem texto e sem lista de obras. Parece que um ciclo se fechou hoje de manhã com esse quebra-cabeça.


Quando me atrevi a convidar Richard para participar da mostra há um mês atrás, senti uma emoção instantânea ao ouvir seu entusiasmo. “Of Course!” Então dali seguimos em correspondências caudalosas que me fizeram sorrir uma vez por dia e, como disse o próprio: “Estou vendo essa mostra como uma espécie de cooking show onde eu te envio os ingredientes e você cozinha uma refeição”.

O convite aos artistas e a todos os colaboradores para esta exposição sempre partiu deste mesmo espirito, como se convida alguém para uma festa ou para um jantar e todos os convidados responderam com o mesmo entusiasmo e confiança. Eu amo todas essas pessoas que vieram nessa festa que inventamos.

Nessa minha curadoria afetiva que não tem a intenção de contextualizar nada de forma histórica; a principal fonte estética é evocar a forma do sol como um elemento que evoca luz e nos faz esquecer das coisas chatas da vida. Queria que o espectador fechasse os olhos em frente a cada obra presente e enxergasse aquela forma redonda que aparece quando se deita na praia com a barriga pra cima e o sol está queimando a pele, fecha-se os olhos e se enxerga essa bola amarela. Todos os trabalhos aqui presentes são entidades de luz e pertencem a esse tempo de agora. Todos acabaram de nascer. Não leia o texto, não leia nem mesmo esse texto de novo, não veja as legendas. Feche os olhos, enjoy your meal! 


Alexandre da Cunha,

São Paulo, 2 de abril de 2022

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